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O Aluno: um factor de motivação do professor.

Nota [1]

Adelino Chipema [2]

Os factores motivacionais do Professor são, nos dias de hoje, tema de conversas entre estes profissionais, a sociedade civil e não só. Na realidade de Angola, têm vindo a ser apontados como principais factores que geram um certo sentimento de desmotivação à classe docente a falta de condições condignas de trabalho e os salários, considerados baixos em face das despesas que com ele é possível pagar.

O aluno é tão-somente o indivíduo que conhece melhor o Professor, pois, em certos casos, o aluno está mais presente na vida do Professor do que na vida de seus pais, noutros casos, o Professor está mais presente na vida do aluno do que na vida de seus próprios filhos. Além das aulas, na sala de aulas o Professor às vezes partilha com os seus alunos as suas conquistas e fracassos.

Sobre factores de motivação do Professor pouco ou quase nada é dito a respeito do sujeito que determina a sua existência, um elemento que conjuntamente com as condições de trabalho para melhor desempenho da actividade docente e salários compatíveis à função, desempenha um papel crucial na motivação diária que o Professor precisa no exercício da sua profissão. Referimo-nos ao aluno participante nas aulas, apresentando contribuições ao tema em abordagem ou indagando o professor sobre as passagens que não foram devidamente compreendidas.

Certo dia entrei numa sala de aulas da instituição onde lecciono, como é praxe, antes de começar uma nova aula, faço uma restrospectiva, mas nesse dia mudei um pouco a estratégia, perguntei aos alunos se tinham revisado a matéria da aula anterior, mas para o meu espanto ninguém respondeu, repeti a mesma pergunta por mais duas ou três vezes e o silêncio manteve-se.

Naquele instante caiu-me uma nuvem negra de tristeza, senti-me profundamente abalado e desmotivado para transmitir o sumário que preparei, só me apeteceu retirar-me da sala, porém não o fiz, continuei. Disse-lhes que não estavam a ajudar e que por essa razão eu não iria fazer a habitual restropectiva e passamos de imediato a falar sobre a aula preparada para aquele dia.

Esse episódio revela o quanto é importante o aluno em qualquer processo de ensino-aprendizagem, assim como na motivação do Professor no processo de transmissão do conhecimento e, para si mesmo, no processo de aquisição do conhecimento.

É de realçar que o empenho é a chave para o melhor desempenho de qualquer actividade, aquele que utiliza esta chave abrirá a porta para o sucesso.

Os alunos de hoje são potenciais professores do amanhã! Com efeito, A exigência de termos “bons Professores”[3], deve ser recíproca à exigência de sermos bons alunos, aliás, dizia BALTASAR GRACIÁN que “não há mestre que não possa ser aluno”.

Thomas Fuller dizia que “o hoje é aluno do ontem”, ou seja, o que fazemos hoje é o resultado do que aprendemos ontem.

Devido à sua própria história, o nosso País enfrenta, a todos os níveis, desafios complexos cujas soluções, se espera, venham a ser dadas pelos futuros gestores e técnicos, hoje alunos. Tal só será possível se os alunos passarem de meros espectadores no processo que envolve a sua aprendizagem para verdadeiros partícipes.

Participação do aluno no seu próprio processo de aprendizagem exige um certo investimento, consubstanciado em dedicar tempo para assimilar os conhecimentos transmitidos e realizar pesquisas, de preferência em fontes diversificadas de modo a enriquecer a sua intelectualidade.

Neste sentido, deve haver uma mudança de paradigma em relação ao que é entendido como “acto ou efeito de estudar”. Na nossa realidade, o “acto ou efeito de estudar” tem resumindo-se apenas na interacção entre o Professor e o Aluno na sala de aulas. Entendimento inteiramente redutor do conceito da palavra “estudar” que, nos nossos dias, deve engajar, além da tradicional interacção Professor-Aluno na sala de aulas, também a revisão permanente dos conteúdos, individualmente ou em grupo, leitura das bibliografias de referência, visitas regulares às bibliotecas ou outros lugares similares.

Em sentido oposto, constata-se que os alunos que não professam a verdadeira essência da palavra “estudar” estão propensos a entrar calados na sala de aulas e dela sair mudos e, para obterem notas positivas, facilmente socorrem-se de meios fraudulentos, desconfiando da sua própria capacidade intelectual, desenvolvem uma incapacidade de, em sede duma prova, não responderem às questões salvo se for com ajuda do colega mais próximo ou da “cábula”.

Como alunos, se quisermos observar a mais profunda essência da palavra “estudar” devemos criar um cronograma pessoal de actividades semanal que permita dedicar a maior parte do nosso tempo diário ao estudo. Para quem encara fervorosamente a sua juventude, isto é, aqueles alunos que se consideram jovens modernos e, por isso, não estão dispostos a perder nenhum momento de diversão, um cronograma de actividades diária entraria em colisão com as suas outras actividades. Contudo, a verdade é que estudar exige sacrifícios, estudar deve obrigar-nos a diminuir os tempos livres ou de diversão, estudar às vezes é pensar que nesse Universo tão grande só existem tu e os teus livros/cadernos.

Não é obra do acaso notar que, do vasto leque de profissões existentes no Universo, uma delas é a de ESTUDANTE. Lembro-me que na altura em que não estava empregado, quando estivesse a preencher qualquer documento que me obrigasse a dizer a minha profissão eu dizia “sou ESTUDANTE”, então, estudar é uma profissão mesmo!

Os dicionários de Língua Portuguesa sugerem como sinonímia da palavra “Profissão”: ocupação, cargo, ofício, etc. Assim, não nos podem considerar verdadeiros alunos se não fizermos disto a nossa ocupação primária, o nosso cargo de eleição ou o nosso ofício típico.

Resulta daqui que a primeira profissão de qualquer profissional é a de ESTUDANTE.

O verdadeiro aluno deve compreender que uma aula não é somente um acto de transmissão de apontamentos, uma aula é uma passagem de testemunho do mestre para os seus discípulos. Dizia ARISTÓTELES que “o verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre”,

Poderá não ocorrer na proporção em que ARISTÓTELES eleva o seu pensamento, porém um aluno que se venere deve inspirar-se nessas palavras e conhecer muito mais do que aquilo que o seu Professor ensina.

Por sua vez, LEONARDO DA VINCI dizia que “só um aluno medíocre não supera seu mestre”.

É de alunos profissionais que as nossas escolas precisam. A motivação do Professor é alimentada pela necessidade de auto-superação, constituindo-se num investigador por excelência e por inerência da profissão. Neste quesito o aluno desempenha um papel fundamental.

Com alunos PROFFISSIONAIS a motivação do professor é maior, não obstante as precárias condições de trabalhos postas à sua disposição ou os salários com fraco poder de compra para a satisfação de necessidades correntes.

Sem menosprezar as condições de trabalho e os salários como outros factores de motivação do Professor, termino apelando às instituições as quais tal tarefa incumbe a reflectirem sobre elas e sobre os resultados que esperam dos nossos alunos perante tal realidade e, aos responsáveis das referidas instituições, deixo para meditação as palavras de FRIEDRICH NIETZSCHE que dizia que “paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre a ser aluno”!

Dundo, Lunda-Norte, 17 de Fevereiro de 2021.

Adelino Chipema Alexandre Sozinho

[1] Breves palavras de incentivo aos hoje alunos, amanhã gestores e técnicos do nosso País.

[2] Advogado e Docente na Faculdade de Direito da Universidade Lueji A´Nkonde na Lunda Norte.

[3] Entenda-se “Professores competentes”.

Este post tem um comentário

  1. Raul Caputo
    Raul Caputo

    Saudações Dr. Adelino Sozinho…

    Grato estou pela forma como abordou a questão em apreço, pude abrir mais os meus horizontes no que toca as nossas escolhas, como disse Aristóteles- o verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre.

    Abraços!!!

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