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O CONTRASTE DA INSÍGNIA, REALIDADE PARADOXAL (Artigo de opinião)

O CONTRASTE DA INSÍGNIA, REALIDADE PARADOXAL
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(Artigo de opinião)

Símbolos são imagens, emblemas, ideias que representam uma “realidade”. Percebe-se desde já que há uma relação forte de representatividade entre o símbolo e a correspondente realidade que se quer descrever.

Por imperativo constitucional, nos termos do artigo 18.º da Constituição da República de Angola (CRA), a República de Angola tem como SÍMBOLOS NACIONAIS , a BANDEIRA NACIONAL , Hino NACIONAL e INSÍGNIA da REPÚBLICA.

Em relação aos dois primeiros símbolos não se levanta grande inquietação. O hino Nacional é bonito, tem uma melodia e um ritmo encantador, os ilustres Senhores MANUEL RUI MONTEIRO e RUI MINGAS, estavam verdadeiramente inspirados.

Quanto à BANDEIRA NACIONAL, tem cores vivas, cativantes exprimindo bem a HISTÓRIA DA NAÇÃO… Embora que muitas, vezes se confunde a bandeira da nação com a bandeira de um determinado partido político, acto propositado ou não, tem levantado um certo desconforto por alguns. Mas isso é uma questão que um dia será interessante abordar…

E por último, temos a INSÍGNIA DA REPÚBLICA , e é aí onde está o “Imbróglio”!!!

Notem o seguinte, A INSÍGNIA DA REPÚBLICA, no seu lado direito é formada por uma roda dentada, que representa os trabalhadores e a indústria. No seu lado esquerdo formada por uma ramagem de milho, café e algodão, representando respectivamente os camponeses e a produção agrícola.

Na base do conjunto, existe um livro aberto, símbolo da educação, cultura e o sol nascente, significando o Novo País. Ao centro está colocada uma catana e uma enxada, simbolizando o trabalho e o início da luta armada. Em cima, figura a estrela, símbolo da solidariedade internacional e do progresso…

Curiosamente todos esses significados, não se coadunam com a actual realidade de Angola, e aí vemos o tremendo PARADOXO SIMBOLÓGICO!

A representatividade INDUSTRIAL não se faz sentir, somos um país, com uns grandes défices. O sector das indústrias está a gatinhar…. Por mais esforços que “aparentemente” estão a ser exercidos ainda há um vazio tremendo de Indústria, vê-se logo a quantidade de produtos que diariamente nos temos IMPORTADO. Ao longo dos anos, as únicas Indústrias que muitos contribuíram para as receitas do Estado são a Indústria PETROLÍFERAS e a Indústria CERVEJEIRA.

Insígnia da República de Angola

Mesmo contribuindo, essas indústrias não estão tão desenvolvidas como deveriam estar, tendo em conta o volume astronômico de receitas que movimentam, propriamente as Empresas Petrolíferas que em Angola, têm tido um actuação “PORNOGRÁFICA”, extremamente danoso para o próprio Estado. Só por curiosidade a indústria cervejeira por anos deu mais receitas que a própria indústria diamantífera! (UM VIVA PARA AQUELES QUE BEBEM !)

Falando agora do lado direito onde está a ramagem de MILHO , CAFÉ e ALGODÃO, é óbvio que não há uma aposta forte na produção agrícola. O pais não é auto-suficiente no milho, café e nem no algodão. Os solos são extremamente FÉRTEIS , mas investimentos e as políticas implementadas os tornam INFRUTÍFERAS. Até parece que entregar a “TERRA ” ao próprios Angolanos foi o caminho para a perdição dos solos em Angola.

Imagem licenciada por 123RF

Recorrendo a história, na era colonial, a PRODUÇÃO DE ALGODÃO em Angola era de até 86.000 toneladas, exportando 10.000.000 toneladas por ano, sendo um dos maiores produtores internacionais. Angola produzia na era colonial cerca de 210 mil toneladas de café comercial anual, com essa cifra o país estava em TERCEIRO LUGAR NA LISTA DOS PRINCIPAIS PRODUTORES MUNDIAIS .

Outrora grandes produções são actualmente monstros adormecidos, que estão hoje em mãos de um certo grupo privilegiados tirando todos os proveitos, esquecendo do Povo. Não esquecendo a dificuldade de circulação de pessoas e bens, que devia ser um vector para a articulação dos mercados internos e correspondente alavanco dessas produções, mas é um eterno empecilho.

Na base temos um livro aberto, símbolo da educação, encimado pelo Sol nascente significando um País Novo. Sobre a educação é unânime o descontentamento e a fraca qualidade nesse sector, o comportamento da sociedade reflecte exactamente o que acabei de dizer.

A falta de vontade política está na origem do fracasso do sistema de ensino em Angola, sem esquecer o pouco investimento na educação, investigações científica, publicação de livros, apetrechamento das instituições de ensino, falta de bibliotecas.. Uma feijoada de problemas que compõem esse prato pouco nutritivo que é a nossa educação.

Gostaria de destacar algo, mesmo com esse sistema fraco, Angola alberga mentes brilhantes, académicos, estudantes extremamente dedicados com o saber. Isso particularmente rejubila-me a alma e sinto uma certa esperança no fundo do túnel.

Ao centro, está colocada uma catana e uma enxada, simbolizando o trabalho e o início da luta armada. Acima figura a estrela, símbolo da solidariedade internacional e do progresso. Na parte inferior do emblema, está colocada uma faixa dourada com inscrição “República de Angola”.

Portanto, espero que com o passar do tempo a Insígnia represente verdadeiramente os elementos que o forjaram, para que represente verdadeiramente a Nação angolana!

Emerson Congo

Timeo hominem unius libri

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